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Um Caudilho e um Médico:
Gumersindo Saraiva e Alípio Santiago Corrêa
Após a fundação de nossa cidade, durante
o período que se desenvolve entre 1860 e a proclamação
da República, o desenvolvimento seguiu a passos lentos,
dentro do dia a dia que acontecia nas comunidades do interior,
principalmente a nossa, que o determinismo geográfico
colocou numa posição de desterro do resto
da terra brasileira. Era uma sucessão de fatos numa
cidadezinha onde a pecuária era o destaque e mais
ainda, havia uma grande agitação política,
reflexo em nosso estado entre os seguidores de Júlio
de Castilhos e os contrários, de Gaspar Silveira
Martins.
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O progresso era lento, mas as lutas eram ferozes entre
os bandos citados, com um alto índice de violência,
através do roubo de gado e dos assassinatos por causa
do dinheiro e outras riquezas, mais as desavenças
político-partidárias.
Neste quadro destacou-se um arroio-grandino, brasileiro,
portanto, que aqui chegando açoitado por querelas
e um assassinato naquele município do outro lado
da lagoa , se radicou nos campos de Curral de Arroios. Comprando
glebas de terra e fazendo fortuna, tornou-se chefe político
e assumiu o cargo de chefe de polícia representando
o império.
Este indivíduo chamou-se Gumersindo Saraiva, que
aqui foi célebre representante dos gasparinos e que
se viu envolvido nas pugnas partidárias. Estas lhe
custaram o desterro e a conseqüente fuga para o Uruguai.
Depois, já na República, tornou parte na Revolução
de 1893 contra a ditadura de Floriano Peixoto, na qual terminou
morrendo sem ver o seu ideal realizado: a volta da democracia,
que ainda não havia acontecido no Brasil republicano.
Gumersindo Saraiva foi uma figura carismática entre
os seus pares na pequenina povoação e sua
voz era acatada pelos correligionários. Ainda hoje,
é um misto de "caudilho valoroso", sentido
por alguns e de "um bandido famigerado", tido
por seus adversários.
Sobressaiu-se entre os demais e fruto de uma época,
tinha atitudes iguais às dos que viviam em seu redor,
mas com muito maior poder. Negou-se a receber o título
de nobreza dado por Dom Pedro II.
Pinheiro Machado, senador da República e seu grande
inimigo, quando soube de sua morte em Carovi, referiu-se
a ele com esta frase: "Parece mentira que este sotreta
abalou a República!"
Em continuação, queremos relembrar a figura
de um conterrâneo que, embora tenha saído de
sua terra natal para estudar medicina, sempre teve olhos
voltados para estas plagas do sul, que ele amava tanto.
Refiro-me a Alípio Santiago Corrêa, homem nascido
em berço de ouro e que fez de sua profissão
uma dedicada vida de benemerência cuidando de seus
semelhantes.
Filho do ilustre homem desta região João Ladislau
Corrêa, apelidado de "João Ladris".
Este tinha uma das maiores fortunas que vimos em nosso meio
e foi o primeiro dono da Estância dos Provedores e
de Dona Marta (Martimiana) Terra Corrêa, tendo como
irmãs, dona Minervina, esposa de Manoel Vicente do
Amaral e dona Agnella, consorciada com Alfredo do Nascimento,
destaques nas comunidades em que viveram, a primeira aqui,
a segunda em Rio Grande.
Veio para cá atuando em sua profissão, na
especialidade de cardiologia, e teve sempre em mente a dedicação
aos seus concidadãos, que o cercavam num preito de
respeito e admiração. Era a figura de proa
na vida social e grau 33 na Loja Acácia Vitoriense.
Foi paraninfo da colocação da pedra fundamental
quando da construção de nossa Santa Casa.
Alípio Santiago Corrêa, nasceu em nossa terra
no dia 6 de agosto e faleceu precocemente em 25 de dezembro
de 1900, deixando uma lacuna irreparável nesta longínqua
povoação. Sendo solteiro e portador de uma
doença fatal, deixou em testamento todos os seus
bens para o nosso hospital, que reverencia sua memória
tendo no saguão de entrada seu busto em mármore
e uma caixa funerária onde repousam seus restos.
Foi grande político, seguidor de Júlio de
Castilhos, e transformou-se no primeiro chefe da Junta Municipal
Republicana de governo quando da Proclamação
da República, haja vista, que era necessário
um novo formato jurídico estabelecido pela ordem
que agora se instalava no país.
Este homem engrandeceu sobre maneira a terra em que nasceu
e viveu. Além de médico caridoso em seu mister,
teve sempre a preocupação com a gente que
aqui habitava. Numa carta escrita a seu grande amigo Irineu
Alves Nunes, quando afastado dessas plagas por motivos profissionais,
dizia: "Viva Santa Vitória do Palmar, feliz,
próspera e gloriosa, a fim de realizar o seu destino".
Dr. Alípio Santiago Corrêa, deixou uma réstia
de luz nesta localidade e sobretudo, dignificou a todos
os seus conterrâneos com trabalho, amor, mas principalmente,
com a visão de um futuro melhor, sempre com os olhos
postados em nossa Santa Casa de Misericórdia.
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